quarta-feira, 29 de abril de 2009

Poesia do Poeta Principiante



Boa noite, senhoras e senhores
Homens e mulheres, jovens...
Damas e cavalheiros
Moças e rapazes!
Querido público inerte,
Proibido de aplaudir e de vaiar!
Este é um concurso para novos escritores de literatura brasileira
Que deverá eleger dentre todas
As milhares de poesias escritas e inscritas
Uma apenas para ocupar o patamar maior!
O posto de maior destaque,
Onde as luzes a seguirão,
Como se buscassem por um artista
Em um desses palcos montados pela vida...
Amigos, amigas, senhores jurados...
Senhores prometidos, combinados, envolvidos
Esta é apenas uma poesia
Que concorre na categoria... Livre!
Talvez desimpedida, talvez ao léu...
Bom, não importa na verdade sua categoria...
Na verdade o meu objetivo como autor e consumador de poesias
Nunca foi atingir o estrelato, nunca foi ser visto no mais alto hall da fama.
Pra ser sincero, tudo isso não importa, não a mim neste momento.
Esta poesia vem a público dizer que ela nada tem a dizer...
Esta poesia vem ao palco dizer que não sabe o que faz aqui...
Esta poesia sobe nesse palanque pra dizer que não sabe porque está nessa
Esta poesia vem dizer que o assunto acabou,
Sim, muito antes de começar!
Esta poesia quer gritar ao mundo que não quer ouvir:
Que não interessa a ela falar de amor,
Que não interessa a ela falar de economia,
Que não interessa a ela se o jogo vai terminar um a um.
Esta poesia poderia dizer a todos aqueles
Que insistem em não se retirar deste recinto
Que a verdade sobreviverá,
Não importa quantas mentiras se lançarem à sua frente.
Mas isso não importa a essa poesia...
Importa que tudo isso nada tem a ver!
E o que tem a ver?
Eu pergunto a minha própria poesia que de mim foge para não me explicar aquilo que eu fujo para não entender...
A poesia minha não quer saber
Se entrou nessa de concurso porque viu um cartaz no banheiro
E decidiu olhando pro espelho que iria participar....
Agora fica sem ter o que falar, sem ter a quem convencer, a quem reclamar
Sem saber qual é o assunto e quantas e quais palavras deve usar...
Sem saber se é legal falar da guerra, dos sem-terra, do Bush,
Do Afeganistão...
Do dólar, de futebol, da novela da globo, da Dolly ou do mensalão...
A poesia minha não sabe se fala mal da Cicarelli e segue atormentada a beira de uma grande decisão:
Assistir ao Gugu ou ao Faustão?
E teme dizer que por mais perto que estejamos
A globalização, é o mundo inteiro dentro de uma só mão....
E com a cara e a coragem, a poesia minha vem à praça central da vida,
Já embriagada pelos gritos da torcida, proclamar independência pra dizer
Que a poesia mesmo neutra, sem sentido,
Expressa na sua forma mais estranha,
Que talvez poesia hoje seja apenas amar....
Mas a minha poesia se descobriu nesta platéia...
Sim, quando já se via sumindo em meio a um longo discurso indeciso
Viu nas cadeiras desta sala,
O maior e mais lindo sorriso...
E por isso decidiu não falar de tristezas,
Refletindo nestas últimas linhas
O espelho deste século,
Que traz a público um novo papa,
Que traz a tona uma nova forma de ver as antigas coisas
Mas que também traz aos nossos olhos a chance para enxergarmos um novo sol, uma nova lua... E novas e lindas estrelas que nos permitam dia após dia sonhar....
Enfim, a minha poesia não está no palco, não está no mundo, não está nas guerras, nas decisões dos grandes líderes mundiais, não está sujeita a regras, a ordens, a cardeais;
A minha poesia não está na propaganda em meio aos tele-jornais, nos casos policiais...
Nas águas dos pantanais, em sons, vinhos e espinhos, nem está nos matagais....
Muito menos em terremotos, artes medievais, ela não está nos temporais...
A minha poesia não quer repetir os ditados antigos, nem ver o passado nem presenciar o presente futuro
Nada disso importa mais....
A única coisa que a minha poesia quer dizer neste instante
A todos que dela estão diante
É que ela, a minha verdadeira poesia, encontra-se na platéia, distraída...
Perfumada, florida...
Minha poesia que dorme enquanto eu discurso,
Embernada como um urso
É a mais bela poesia que meu coração tem...
E a tanto tempo me faz refém!
E vive agora seus últimos segundos
E evapora um a um todos os seus mundos
E chove em chuva cristalina...
E cai em forma de uma menina,
Que é pequena chave de uma grande porta...
Eis a minha poesia!
30/04/2005 (La se vão quatro anos)

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