quarta-feira, 29 de abril de 2009

Enigmático



Vejo quanto tudo de ordem
a errada está
desejo meu é não
e está errada
Irritados estão Muito mundo
O ver para uso
que olhos os Porque
parafusos
perdendo Cansado aqui estou eu
e Dilemas Seus Têm Todos
Problemas Seus com Todos vão
Consigo levam
Sentido sem fé é fé Sem pé
Faz Me Coração Meu
O Que Desafio O É
Aliás Vê-las Saber
São como
Vê-las Para Sapiência
nem Entendê-las Para Paciência
Sem pessoas diversas
As mal tratando sigo
intenção sem
... boas palavras, pensamentos
nem versos nem lindos poemas
sai não boca minha da que já
vai então fugir precisa se
Perigo corre
Desprevenido anda
Se, juízo!
Aviso meu aqui vai
Cuidado!
Tenho Não
Já Que O Perder Não Para
Coisa Alguma Fazer Preciso
Desenho fazer
Ler,
Tampouco Ouvir, Pintar,
Rouco Ficar
Até Gritar Nada
Falar Para dá
Não Que Já
calar Me Precisava
necessito e preciso mais que tudo
de ficar melhor tudo para tudo
.
.
.
(desafio é me entender, e esse tem sido o meu desafio nos últimos tempos... eclarecimentos no próximo post)

Poesia do Poeta Principiante



Boa noite, senhoras e senhores
Homens e mulheres, jovens...
Damas e cavalheiros
Moças e rapazes!
Querido público inerte,
Proibido de aplaudir e de vaiar!
Este é um concurso para novos escritores de literatura brasileira
Que deverá eleger dentre todas
As milhares de poesias escritas e inscritas
Uma apenas para ocupar o patamar maior!
O posto de maior destaque,
Onde as luzes a seguirão,
Como se buscassem por um artista
Em um desses palcos montados pela vida...
Amigos, amigas, senhores jurados...
Senhores prometidos, combinados, envolvidos
Esta é apenas uma poesia
Que concorre na categoria... Livre!
Talvez desimpedida, talvez ao léu...
Bom, não importa na verdade sua categoria...
Na verdade o meu objetivo como autor e consumador de poesias
Nunca foi atingir o estrelato, nunca foi ser visto no mais alto hall da fama.
Pra ser sincero, tudo isso não importa, não a mim neste momento.
Esta poesia vem a público dizer que ela nada tem a dizer...
Esta poesia vem ao palco dizer que não sabe o que faz aqui...
Esta poesia sobe nesse palanque pra dizer que não sabe porque está nessa
Esta poesia vem dizer que o assunto acabou,
Sim, muito antes de começar!
Esta poesia quer gritar ao mundo que não quer ouvir:
Que não interessa a ela falar de amor,
Que não interessa a ela falar de economia,
Que não interessa a ela se o jogo vai terminar um a um.
Esta poesia poderia dizer a todos aqueles
Que insistem em não se retirar deste recinto
Que a verdade sobreviverá,
Não importa quantas mentiras se lançarem à sua frente.
Mas isso não importa a essa poesia...
Importa que tudo isso nada tem a ver!
E o que tem a ver?
Eu pergunto a minha própria poesia que de mim foge para não me explicar aquilo que eu fujo para não entender...
A poesia minha não quer saber
Se entrou nessa de concurso porque viu um cartaz no banheiro
E decidiu olhando pro espelho que iria participar....
Agora fica sem ter o que falar, sem ter a quem convencer, a quem reclamar
Sem saber qual é o assunto e quantas e quais palavras deve usar...
Sem saber se é legal falar da guerra, dos sem-terra, do Bush,
Do Afeganistão...
Do dólar, de futebol, da novela da globo, da Dolly ou do mensalão...
A poesia minha não sabe se fala mal da Cicarelli e segue atormentada a beira de uma grande decisão:
Assistir ao Gugu ou ao Faustão?
E teme dizer que por mais perto que estejamos
A globalização, é o mundo inteiro dentro de uma só mão....
E com a cara e a coragem, a poesia minha vem à praça central da vida,
Já embriagada pelos gritos da torcida, proclamar independência pra dizer
Que a poesia mesmo neutra, sem sentido,
Expressa na sua forma mais estranha,
Que talvez poesia hoje seja apenas amar....
Mas a minha poesia se descobriu nesta platéia...
Sim, quando já se via sumindo em meio a um longo discurso indeciso
Viu nas cadeiras desta sala,
O maior e mais lindo sorriso...
E por isso decidiu não falar de tristezas,
Refletindo nestas últimas linhas
O espelho deste século,
Que traz a público um novo papa,
Que traz a tona uma nova forma de ver as antigas coisas
Mas que também traz aos nossos olhos a chance para enxergarmos um novo sol, uma nova lua... E novas e lindas estrelas que nos permitam dia após dia sonhar....
Enfim, a minha poesia não está no palco, não está no mundo, não está nas guerras, nas decisões dos grandes líderes mundiais, não está sujeita a regras, a ordens, a cardeais;
A minha poesia não está na propaganda em meio aos tele-jornais, nos casos policiais...
Nas águas dos pantanais, em sons, vinhos e espinhos, nem está nos matagais....
Muito menos em terremotos, artes medievais, ela não está nos temporais...
A minha poesia não quer repetir os ditados antigos, nem ver o passado nem presenciar o presente futuro
Nada disso importa mais....
A única coisa que a minha poesia quer dizer neste instante
A todos que dela estão diante
É que ela, a minha verdadeira poesia, encontra-se na platéia, distraída...
Perfumada, florida...
Minha poesia que dorme enquanto eu discurso,
Embernada como um urso
É a mais bela poesia que meu coração tem...
E a tanto tempo me faz refém!
E vive agora seus últimos segundos
E evapora um a um todos os seus mundos
E chove em chuva cristalina...
E cai em forma de uma menina,
Que é pequena chave de uma grande porta...
Eis a minha poesia!
30/04/2005 (La se vão quatro anos)

domingo, 26 de abril de 2009

Tão Nossos


Tão nossos como nossas conversas
Hão de ser esses versos
Amarre-os junto ao peito e não os largue
Imagine que são palpáveis e segure-os, firmemente!
São teus, são meus... nossos versos!
Mereça esses versos que não querem falar tão somente de amor
Antes refletem a mágica sensação de estarmos juntos
A espera de um toque mudo e não menos profundo
Apago as luzes e estamos aqui ainda
Rindo de coisas que não sabemos explicar
Sem entender sequer do que falamos
Como se tivéssemos depois de meses sem nos ver
Nos encontrado em uma esquina
E não soubéssemos depois para onde vamos
E não soubéssemos ao certo de onde viemos
E o que fez com que pudéssemos nos encontrar
Como se trocássemos insultos divertidos na mesa de um bar
Estamos juntos, longemente juntos... na mente, juntos
Juntos para alcançar os mais altos objetivos
Que seja apenas na imaginação
Ou na poesia destas nossas palavras
Que lançamos um contra o outro sem qualquer perspectiva de ser
Sem interesse nenhum... nossos versos vêm e vão e ficam sempre aqui
Aqui dentro de nós... a fazer de lágrimas ligação entre emoção e vida!
Feche os olhos e receba então esses versos
Que são meus, seus, nossos... e carregue-os até os confins da terra
E quando não conseguir mais levá-los, não os prenda
Solte-os, pois aí já não mais serão seus, nem nossos!




quarta-feira, 22 de abril de 2009

Rotulado


Alguém ainda aqui?
Bebendo besteiras? Batendo boca? Brigando bravo...
Caçando coisas, catando cacos... cantando canções, comendo cravos...
Dando disciplinas, degustando doces, demonstrando dotes,
disputando damas, demarcando datas?

Enumerando exigências, enganando eu, experimentando energético, empunhando espada...
Fazendo força? Fazendo farra... famigerado, fabuloso, fazendo falta...
Ganhando guerras, ganhando garotas, ganhando gastos, gerando grosserias, grafando guardanapos, gritando gostoso (bem alto)
homens, heróis, heroínas,héteros, homos, histéricos, hipócritas? Há história? haverá harmonia? Haveria honra? (vitória)

Ignorandoo inevitável, ileso, iluminado, imprescindível, impressionado, impotente, impactado... há?
Julgando, julgado, juizado, jesuíta, justo, justificado? Há?
Lamentando, lamentado, lambuzado, lógico, literário, liberal, líder, lixo, luxo, haverá?
Mediando mesas, mudando móveis, mamando, mamado...
Maquiavel, malandro, maléfico, malfeitor, malicioso, malvisto, magoado, medroso,
Mercenário, mentiroso, missionário, misericordioso, moderno-moço, modesto, morto... haverá?
Naufrago, nu, ninguém, nazista, negligente, normal, noviço, necessário, neutro, nítido, notório, nebuloso, natural, numeroso... negando nada, haverá?

Objetivo ou oratório, obsoleto ou original, observador ou óbvio, ordenado ou obrigatório, oposto ou ovacionado, ostensivo ou ocioso...
Passando por problemas? Pagando por pecados? Pagando promessas? Poetas? Prisioneiros, príncipes, porquês, perguntas, presidentes? Piadas...
Querendo, queixando-se, questionando-se, queixudo, quadrúpede, quadrilátero, qualquer...
Razoável, receptivo, reencarnado, racista, ranzinza, recomendado, remunerado, refugiado, regenerado, reduzido, reedificado, resistente, recusado-ressuscitado, redutível, retrógrado, reumático, rico, risonho, rouco, roxo, rosa-rosado, revolucionário, ricaço, riquino, rico, ridículo,
Rebelde, romântico, rasgado, rangido, reciclado, reticência
Super-herói? Sumo sacerdote? Sentimental, semi-analfabeto, semi-deus, saudável, sóbrio, seco, silencioso, seguro, sensível, sátiro, submisso, social, sossegado, sozinho, suspeito, sutil, haverá?

Temido, tatuado, trapaceiro, temporário, terceirizado, tímido, transgressivo, tuberculoso, trêmulo, traumático, trapezista, haverá?
Universitário, ultrapassado, ulceroso, usuário, urologista, ultra-sensível, unilateral, uniformizado
Veloz, vadio, valorizado, velado, versátil, vulnerável, vigia, vigiado, vítima, viciado, vinculado, vulgar, visível, vitalizado...
Xoxo, xerife, xarope, xereta (chato)
Zeloso, zangado, zanzando, ziguizaguiando, zodíaco, zoiudo, zoiado, zoando, haverá?

Alguém aqui comigo
dentre todo o alfabeto
que foi ou não citado
simples ou discreto,
ou em qualquer estereótipo que lhe couber,
que alguém te puser, quem saberá... haverá?
(Na busca por velhos conceitos)

domingo, 12 de abril de 2009

Ausência




Não é só saudade
e nem é tristeza
Não chega a alegria
tampouco fraqueza
não se limita a uma
lembrança
um passo de dança...
A ausência não anula o verdadeiro
E essa verdade não anula tua ausência
(e tudo faz tanta falta pra mim)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A sua Missão


Nós todos nascemos já com um problema. Meu Deus! Que dura é a vida perante o espelho! Enxerguemos a ela como se não existisse dor. Mas diante do espelho a dor é mostrada. Você, sua vida, sua estrada...
Amigo, amigo, amigo, longa caminhada... Mas breve, muito breve sua jornada
Nascemos e somos preenchidos por um vazio. E a vida tem um único sentido: preencher esse vazio! Nos primeiros anos é simples: Imite aos outros e aprenda! Aprender é uma forma de se encher. Sim, se tem tanta coisa para aprender que a gente nem nota que exista sentimentos como solidão, vazio, falta. A gente ainda não tem muita saudade, por razões até meio obvias. E quando se aprende a andar, tudo é festa. Porque nesta fase se abre um leque imenso de possibilidades – para quem já aprendeu a caminhar, o mundo não é tão grande assim. Tudo passa a estar ao alcance das mãos. Mas para cada coisa há um tempo. E esta é a fase de brincar! E depois... brincar, brincar, brincar. Nesta fase, dependendo da necessidade de seus pais, pode ser que você seja levado a uma creche, escolinha, CEMAE, coisa do gênero. Pode ser que você dê uma imensa sorte e seus pais tenham muito tempo para amá-los. Sim, ainda que você tenha o resto da vida para se sentir amado, amor nunca é demais. Ainda mais nessa fase. Todavia, se por um lado, ir para uma creche ou escola a gente perde um pouco da atenção dos pais, a gente lá tem o convívio com outras pessoinhas como nós. E isso é muito bom! Aprendemos cedo demais a conviver com pessoas. E isso, isso levaremos para toda a vida. E tem mais um atenuante: os nosso pais cheios de um sentimento chamado saudade – que nessa época a gente começa a aprender o que é..., - vão nos encher de abraços e beijos e carinhos... ah sim claro, e perguntas! Se acostume, principalmente com a parte das perguntas; pais... os pais fazem perguntas!
Então tudo nessa época é muito bom! Todas essas atividades, sem muito compromisso, fazem de você uma pessoa cheia de algo que, por hora, chamaremos de felicidade! Vale lembrar que tantos são os sorriso quanto as lágrimas. Mas lágrima é outra palavra a qual devemos nos familiarizar muito cedo.
Pois bem, aparentemente não há vazio nenhum em você! Você se enche disso tudo. E quando você tá no auge da brincadeira, apostando na vida, achando ela um barato... vem alguém e corta suas asas! E você, cai alto demais! Alguém te tira dali do meio do seu natural e te coloca em outro lugar. Um lugar onde você não pode brincar a torto direito. E alguém te regra - diferentemente de regar; - alguém que você teme te impõe limites. Há temíveis linhas amarelas nos chão: “Não pule o muro, pois de lá do muro é escuro” E outras coisas mais... e muuuitas outras mais. Você então é obrigado a vomitar tudo que acumulou no decorrer de mais de seis anos de vida. Joga tudo fora – a vida não permite que você seja assim pra sempre – e esse golpe é duro! Todavia é preciso um outro desafio: ser feliz na segunda fase da vida.
Para isso, preencha novamente o vazio! Agora, na escola! É nela que você... descobre outras coisas, faz outros planos. Aprende, faz amigos, descobre o beijo
E preenche este vazio... aí vem a vida de novo e te joga em um lugar diferente. Um lugar onde alguém que não se sabe quem. E não se sabe o porquê dessa sua atitude te apresentará alguns sentimentos que você precisará conhecer e, como tudo que venho dizendo, levará pro resto da sua vida! Sim, meu amigo, chega a adolescência. A vida com unhas de águia arranca tudo o que tem dentro de você te tranca no teu quarto, liga o som no ultimo e te atira pedras e te ensina a viver. Você então chora, questiona a vida e se pergunta: por que vivo? Que vazio é esse? Você o percebe pela primeira vez... Mas nessa fase, você o derrota, prossegue, levanta a cabeça e se enche!
Encontra amigos que pensam igual, festas, namoros, beijos, sexo... Ah... você passa por essa fase...
Surge então a cobrança: a vida lhe aponta o dedo grande e grita: A vida não é só curtição, onde está a responsabilidade? E ela surge, disfarçada de emprego, de faculdade... Você então põe num grito terrível num lugar escuro pra fora tudo que te encheu e parte em busca novas coisas – a busca é agora a realização profissional. E você a encontra, faz provas, sobe de cargo, seu salário até aumenta! Três por cento, mas aumenta... Você se enche, se forma! Que bom!
E aí bate um desespero! Você leva as mãos a cabeça e pergunta:
Pós-graduação? Namoro? Você engravida num momento impensado. Queria se encher de prazer e se encheu de problemas, de contas, de dor! Mas no meio do desespero surge uma luz: Um filho é sempre um estímulo. A alegria de ver aquela criaturinha tão linda enche você quase que por completo! Talvez nesse momento te encha até a boca... mais! Bem mais! Você transborda! Se vê satisfeito... das suas obras, dos seus feitos, o mais lindo!
Você prossegue, seus filhos crescem. Você caminha e vai preenchendo os vazios.
Todos eles, de fase em fase. Um a um...
Seus filhos se casam... Você passa a morar só. Seu companheiro ou morre ou te larga. O vazio parece infinito... (a esse chamarei de solidão) Mas não é infinito, você consegue ainda assim amigos. Pessoas te ligam, você sai. E arrumou um serviço novo e gás para uns vinte anos! Não fossem as desavenças da vida. Ela quer às vezes te provar e inventa umas dores, doenças e um tal de cansaço, cresce o desânimo. Este, quer te desestimular a fazer coisas que preencham seu vazio!
Este momento é crucial, você se vê só. Muito só! E acredita erroneamente que não tem pique para fazer aquilo que preenche seu vazio: “ é o fim” – você se lembra de tudo o que já passou na vida. E pensa realmente que é o fim!
Muitas vezes bate à porta a morte. O último estágio deste vazio. Mas você está vivo ainda, precisa entender que seu corpo muda. Sua cabeça muda, seus sonhos mudam, os lugares mudam. E aquilo que te satisfaz tem que acompanhar sua força. E então, você descobre um prazer qualquer: costurar, pintar, escrever, ler... Um pequeno-mais-grande-prazer; ouvir músicas... caminhar; e enche seu vazio! E prepara-se para morrer feliz, você enganou sabiamente a vida, a dor, o tempo! E conseguiu chegar ao fim da vida cheio, cheio de coisas boas e talvez vazias para contar!

( Mas será que não pode ser diferente? Me dê a mão e vamos preencher todos os nossos vazios juntos)

domingo, 5 de abril de 2009

Anônimos



Para alguns é o inconveniente
Intrometido, covarde, bobão
Para alguns, para mim não!
Com suas criticas e sugestões
Sem expor-se
Divide opiniões
Mas diz o que muitos temem
Fala o que se precisa ouvir
Tem o dom da sinceridade
E isso sempre falta por aqui!
O anônimo é a mais divertida das pessoas
Por não ter face usa a faceta de todas (qualquer uma)
Por não ter corpo usa um corpo qualquer
(Qualquer coisa como um espírito)
Por não se explicar
Diz as maiores verdades
Diz as maiores mentiras...
E ri! E se diverte...
Pela certeza de não ser encontrado
Provoca e desafia!
E, passa trote! No disque denúncia, me denuncia
Revela segredos, faz confissões
Mensagens da web...
Ligações de números confidencias; desconhecidos
Tem seu papel social, é importante e ativo!
O anônimo é brincalhão, inteligente e prestativo!
E é anônimo todo aquele que não quer aparecer
E é anônimo qualquer um visto ao lado de um famoso
Mas cuidado! Companhia famosa
Torna o anônimo um conhecido!
Anônimo é um ser sem juízo!
Ahhh mas sim, Senhor anônimo
Seja muito bem-vindo
Travaremos grandes diálogos se preciso
Aqui é nosso espaço
E identificar-se não é de todo preciso!
Anônimas são também todas as pessoas
que vemos nas ruas e sabemos quem são
e não sabemos para onde vão e o que há com elas
e claro, de igual forma anônimos somos
para cada uma delas
o anônimo é um sábio, nunca covarde
não quer glamour, faz grandes coisas
e se abdica de ser homenageado
engrandecido! Não quer Status de herói
é bonito!
Mas eu bem que te conheço Sr Anônimo
Conhecido és por tuas palavras
Teu não com A dobrado
Teu tom de voz
que deixa transparecer sentimento
Em tudo que diz,
que faz as palavras saltarem e atingirem a gente!
Por tua franqueza que tanto me faz bem
Por se manter no anonimato é que me identifico
Não tenho pretensão de ser reconhecido
Te admiro! E se é que tens sexo, eu me casaria contigo!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rito de paz


Antônio abriu a geladeira. Estava suado, tinha um gosto amargo na boca. Queria algo diferente de tudo que avistou: leite, suco, queijo, presunto, mussarela, maionese, manteiga, refrigerante, resto do almoço. Queria o que não queria. Tinha uma vontade muito grande de comer... de comer... de comer algo como... como... bom, de beber. Talvez quisesse algo para beber. Algo que não existia. Queria tomar um banho longo. Daqueles que se toma enquanto canta uma melodia triste e linda... como tudo o que é cantado com sentimento nos banheiros parece ser. Queria tomar um banho, seu corpo pedia um banho. Seus pés pediam um banho. Seus cabelos suplicavam por um banho. Algo, contudo, o impedia:
“Se eu entrar no banheiro e o telefone tocar? Pode ser que isso aconteça!” Antonio sabia... sabia o que lhe preocupava. Estava a espera de uma ligação que lhe foi prometida para após o almoço. Mas sabemos que após o almoço e antes da janta – tudo pertence ao mesmo espaço de tempo. Ligou a TV... folheou os canais... nada lhe prendia atenção: fofocas, filmes repetidos, receitas de bolo, vida de artista, marginal pinheiro... nada! Desligou. Achou por bem curtir o silêncio e nesse silêncio imaginar coisas agradáveis. Coisas que seu coração queria. Coisas que suas mãos queriam... mais que um banho, acreditem. Era uma tarde de outono. As árvores se desfolhavam na rua sem graça com casas mesmas e pessoas mesmas e coisas mesmas. Carros pastavam com preguiça! Sorveteiros buzinavam suas buzinas insuportáveis aos ouvidos de alguém que não tem mais a paz de antes no coração!
- “Música! uma música é sempre indicada em momentos como estes!” Antonio conhecia o segredo das músicas. Só as musicas têm o poder inigualável de trazer uma paz repentina ao coração. Uma paz capaz, como poucas coisas de mudar tudo... uma paz fugaz, mas paz é sempre paz. Foi até seu pequeno acervo de preciosidades. Nele se encontravam mestres como: Toquinho, Tom Jobim e Vinícius, Chico, Caetano, Sinatra e Louis Armstrong. Este último, a quem ele pouco conhecia, ainda assim, lhe impressiona muito. Vez e outra se pegava cantando “What a wonderful Wolrd”. Se identificava com a canção de mensagem esperançosa feita há muitos outonos atrás. Ele se lembrava com apreço disso.
O ano era 1967. Louis Armstrong emocionou o mundo com sua voz marcante unida a letra indescritível. Ele se lembrava muito! Embora em 67 tivesse pouco mais de doze anos. Colocou então a música para que seus ouvidos pudessem pela quarta década seguida se desfrutarem. Seus olhos se enchiam de lágrima e empolgado cantava:
“The colors of a rainbow.....so pretty ..in the skyAre also on the faces.....of people ..going byI see friends shaking hands.....sayin.. how do you doTheyre really sayin......i love you...”
Embora soubesse de cor e saltiado a letra. Teimava em abrir o encarte do CD para acompanhar. Gostava de tatear as palavras uma a uma. Palavras que dali se desprediam e buscavam seus ouvidos com alegria. Por um instante pequeno, não mais que uns três... quatro minutos sentiu-se estremamente feliz! “Quem dera as pessoas pudessem trazer essa paz como fazem as músicas”. – refletiu – “Há momentos que ninguém no mundo nos compreende como elas... Há momentos em que ninguém no mundo é capaz de chamar à vida. Nos fazer enxergar tudo isso”. Lamentava a essa altura. Queria que ao termino das músicas as pessoas pudessem refletir sobre elas... queria que as pessoas que as ouvissem extraissem o melhor delas e levassem essa paz ao coração de outras.
Queria que o mundo olhasse para tudo de maneira mais justa e coerente. Queria... mas nesse momento já não havia tanta coisa a que se lamentar. A prioridade era outra! Voltou a geladeira. Com uma paz desconfiada no coração. Aceitou que tudo, por mais duro que fosse, era assim... apanhou então as bandeginhas com presunto e mussarela, pegou no armário algumas fatias de pão de forma. Encheu o copo de refrigerante. E sentou-se para finalmente comer. Nesse instante, o telefone disparou a chamar. Deu um suspiro profundo. Olhou o relógio... e fez sua escolha, deu com os ombros: não vou atender! Não vou! Passava por momentos dificeis. Coisas e coisas lhe tiravam o sono. Podia ser uma notícia desagradável. Ele não queria passar por aquilo naquele instante. Precisava comer: “tudo o que preciso neste momento são de pessoas que me compreendam...” o telefone insistia... parecia estar mais alto e mais irritante. Mas ele prometeu: não vou! Fez um outro sanduiche e mordeu com prazer.
Mastigou de forma demorada. Como que apreciando cada segundo daquela paz que ele inventou.
(trimmmmmmmm, trimmm, trimmmm...)
E não parava de tocar! Ele se manteve firme! No fundo sabia que uma chateação qualquer poderia desfazer em um só segundo todo seu rito de paz!