quarta-feira, 24 de junho de 2009

Por um fio


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É quase noite na cidade. E como todo brasileiro após um dia estressante de trabalho o que mais quero é chegar em casa, tomar um bom banho e descansar. Mas como tem gente ficando mais velha hoje, meu o amigo de todas as horas vai estar a minha espera na porta do trabalho com aquele sorriso largo de sempre. No mínimo vai julgar que me esqueci que hoje é segunda-feira! E dizer que como combinado, vamos comemorar o aniversário do Léo. E nessa hora eu como quem se esqueceu do trato vou questioná-lo: - E segunda é dia pra isso? Não temos mais dia! Ignorando minha frase de efeito vai tentar me ludibriar alegando que amanhã o Léo parte para São Paulo e só volta em quinze dias. Implicando comigo: “Que cara é essa?” Léo vai ficar super chateado se não for! Após um pequeno diálogo vou ceder: “Está bem. Mas preciso de um bom banho!” E como sempre o amigo de sorriso largo vai brigar comigo: “Se for em casa sei que não vai voltar.”
Seis horas da tarde, hora de bater o cartão e encarar isso tudo. Saio quietinho pela porta do trabalho e quem está lá fora? Ninguém! Ah espere, há um carro ali, uma buzina:
- E aí? Bora – diz o cara de sorriso largo – sem ousar descer do carro para enfrentar todo o nosso diálogo – vamos né? Fazer o quê…
Três horas depois chego em casa, cansado, sem banho…
Alguém me chama a atenção:
- Oi, poxa vida achei que não vinha. Temos compromisso.
- Desculpe, me enrolei um pouco com os amigos após o trabalho.
- Hum. Até agora? Vai começar, já estava ficando brava. Se não aparece… dois meses sem conversa.
Ela estava radical naquele dia. Eu, pensativo. Gostaria de passar mais tempo em casa. É, e fazer coisas mais produtivas. Ler mais. Estudar. Já havia até me esquecido a última vez que peguei um livro pra ler.
- Ei, você ta aí? Acorda, vai começar.
- Puxa, acabou a novela? Nem vi.
- Talvez estivesse no mundo da lua. Ficou cinco minutos sem uma palavra.
- É… pensando na vida. Preciso mudar. Todos nós precisamos (…)
Ela interrompeu, dizendo para eu prestar atenção no começo. Riu: “As cenas iniciais são importantes para se entender!”
A gente conhece esses filmes. Sabe disso. Não disse nada. Quase nada, apenas um ta seco. Um ta seco que quase nos levou a uma pequena discussão. Graças a uma cena bonita fui salvo. Respirei aliviado – o casal do filme era apaixonado!
Logo, logo o filme chegou na parte boa. Sim! Até então não havia entendido muita coisa. Ou havia. Só que conforme o roteiro, tudo aquilo que se viu e pouco se deu atenção parece se juntar de repente. É, e a gente diz com uma cara de bobo, sem perceber: ahhh entendi! Não poucas vezes a gente é ironizado:
- só agora? E alguns risos sutis. Ou dependendo do tempo que se leva a chegar nesse ah os risos são até exagerados. Nada que estrague o momento. Já havia se tornado envolvente a história e comentários e previsões já eram muitos. Era a parte boa. Quando se começa a sofrer as dores das personagens. Há filmes que, devo confessar, torço pro vilão. Não era o caso desse. Esse era bom. Sim, bom filme! E brasileiro. Há pouco tempo havia descoberto a qualidade de filmes brasileiros. Esse não era muito regado a palavrões. Era divertido. Pudera, brasileiro é divertido. Era baseado em fatos reais. História triste. Mas eu sabia que tudo ficaria bem no fim. Pelo menos era para isso que torcíamos:
- Vai ficar tudo bem! Ela concordou. E riu. Sabia que iria ficar tudo bem. O que não tirava de maneira nenhuma o interesse em assistir, nem a tensão de cena após cena. Depois de um tempinho, disparou: - que vai ficar bem é óbvio – Ela adora essa palavra. Eu me sentia inferiorizado quando ela dizia isso. Às vezes a dizia, outras vezes não. Dessa vez não disse. Fiquei quieto por um tempo. Meu silêncio a incomodou um pouquinho. O que a levou a perguntar pelo meu dia e a questionar meu silêncio.
- Ei, na hora do intervalo, se quiser pode conversar comigo. Ligo não, ta? Amenizou a pequena crise.
- Claro! Só estava vendo esse reclame. Deixamos de lado um pouco o filme. Víamos. Mas a conversa no intervalo nos tirou um pouco o foco. Em poucos minutos, talvez cinco de propagandas, ficamos falando da vida. O filme já havia voltado há um tempo e a conversa iniciada no intervalo já quase alcançava o próximo.
- Você está entendendo? Ela me pôs em xeque.
- Claro. Sua mãe quem deu a idéia. Ela disparou a rir. Percebi o equivoco: “estou brincando né? Sei que não se trata disso.”
- É, refiro-me ao filme! Parte final!
- Estou sim! Só não falo para não perder a graça, depois a gente debate.
- Melhor!
As cenas eram fortes, a personagem a qual não desgrudávamos os olhos, parecia perder a luta contra vida. Seu quadro era delicado. Foi levada desacordada ao hospital e quando ali se percebeu, só sabia gritar: Fabio! Fabio! – Era o noivo - que como nós nunca havia deixado de acreditar na sua vitória e se arriscava no seu carro pelas ruas do Rio de Janeiro.Corria muito, temia não chegar a tempo.
- Ufaaa. Dá um medão de ele não conseguir. Medo que ela morra. Comentou Emocionada - não raras as vezes um bom filme ou livro a emocionava. Era uma menina linda por dentro e por fora e senti a necessidade de dizer algo a ela nesse sentido:
- Você é muito especial, sabia? Não deu tempo para que ela me agradecesse, o filme nos prendeu demais. Era o ápice! Fabio falava coisas lindas segurando a mão de Marina - como acontecem nesses filmes. Ela comentou pela última vez uma cena: “Ah que lindo”. De fato era. Muito!
Pela minha experiência ainda restavam uns cinco minutos. De repente minha companhia tão agradável se foi. Desapareceu sem sequer se despedir de mim. Parei de olhar a tela da TV. Fiquei a questionar sobre aquilo – Uma tremenda sacanagem – pensava. O momento mágico do filme foi interrompido. De forma brutal. Com quem eu iria debater o final, filosofar sobre a vida? Dizer o que achei! Afinal não é pra isso que se vê filme? Perdia o sentido nossas previsões, erros e acertos. A tevê continuou ligada e já não tinha razão de ser. Estava sozinho de novo, luzes apagadas, a conexão caiu!!!

2 comentários:

  1. Talvez se tivesse pego na mão dela como ela percebeu no filme...
    ha pessoas que precisam mais que o que esta implicito.
    Sei lá

    Denise

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  2. Pegar nas mãos? huashauasasa achu q ñ dava! Ou dava Sr Messias
    hahahahahaha

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