sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rito de paz


Antônio abriu a geladeira. Estava suado, tinha um gosto amargo na boca. Queria algo diferente de tudo que avistou: leite, suco, queijo, presunto, mussarela, maionese, manteiga, refrigerante, resto do almoço. Queria o que não queria. Tinha uma vontade muito grande de comer... de comer... de comer algo como... como... bom, de beber. Talvez quisesse algo para beber. Algo que não existia. Queria tomar um banho longo. Daqueles que se toma enquanto canta uma melodia triste e linda... como tudo o que é cantado com sentimento nos banheiros parece ser. Queria tomar um banho, seu corpo pedia um banho. Seus pés pediam um banho. Seus cabelos suplicavam por um banho. Algo, contudo, o impedia:
“Se eu entrar no banheiro e o telefone tocar? Pode ser que isso aconteça!” Antonio sabia... sabia o que lhe preocupava. Estava a espera de uma ligação que lhe foi prometida para após o almoço. Mas sabemos que após o almoço e antes da janta – tudo pertence ao mesmo espaço de tempo. Ligou a TV... folheou os canais... nada lhe prendia atenção: fofocas, filmes repetidos, receitas de bolo, vida de artista, marginal pinheiro... nada! Desligou. Achou por bem curtir o silêncio e nesse silêncio imaginar coisas agradáveis. Coisas que seu coração queria. Coisas que suas mãos queriam... mais que um banho, acreditem. Era uma tarde de outono. As árvores se desfolhavam na rua sem graça com casas mesmas e pessoas mesmas e coisas mesmas. Carros pastavam com preguiça! Sorveteiros buzinavam suas buzinas insuportáveis aos ouvidos de alguém que não tem mais a paz de antes no coração!
- “Música! uma música é sempre indicada em momentos como estes!” Antonio conhecia o segredo das músicas. Só as musicas têm o poder inigualável de trazer uma paz repentina ao coração. Uma paz capaz, como poucas coisas de mudar tudo... uma paz fugaz, mas paz é sempre paz. Foi até seu pequeno acervo de preciosidades. Nele se encontravam mestres como: Toquinho, Tom Jobim e Vinícius, Chico, Caetano, Sinatra e Louis Armstrong. Este último, a quem ele pouco conhecia, ainda assim, lhe impressiona muito. Vez e outra se pegava cantando “What a wonderful Wolrd”. Se identificava com a canção de mensagem esperançosa feita há muitos outonos atrás. Ele se lembrava com apreço disso.
O ano era 1967. Louis Armstrong emocionou o mundo com sua voz marcante unida a letra indescritível. Ele se lembrava muito! Embora em 67 tivesse pouco mais de doze anos. Colocou então a música para que seus ouvidos pudessem pela quarta década seguida se desfrutarem. Seus olhos se enchiam de lágrima e empolgado cantava:
“The colors of a rainbow.....so pretty ..in the skyAre also on the faces.....of people ..going byI see friends shaking hands.....sayin.. how do you doTheyre really sayin......i love you...”
Embora soubesse de cor e saltiado a letra. Teimava em abrir o encarte do CD para acompanhar. Gostava de tatear as palavras uma a uma. Palavras que dali se desprediam e buscavam seus ouvidos com alegria. Por um instante pequeno, não mais que uns três... quatro minutos sentiu-se estremamente feliz! “Quem dera as pessoas pudessem trazer essa paz como fazem as músicas”. – refletiu – “Há momentos que ninguém no mundo nos compreende como elas... Há momentos em que ninguém no mundo é capaz de chamar à vida. Nos fazer enxergar tudo isso”. Lamentava a essa altura. Queria que ao termino das músicas as pessoas pudessem refletir sobre elas... queria que as pessoas que as ouvissem extraissem o melhor delas e levassem essa paz ao coração de outras.
Queria que o mundo olhasse para tudo de maneira mais justa e coerente. Queria... mas nesse momento já não havia tanta coisa a que se lamentar. A prioridade era outra! Voltou a geladeira. Com uma paz desconfiada no coração. Aceitou que tudo, por mais duro que fosse, era assim... apanhou então as bandeginhas com presunto e mussarela, pegou no armário algumas fatias de pão de forma. Encheu o copo de refrigerante. E sentou-se para finalmente comer. Nesse instante, o telefone disparou a chamar. Deu um suspiro profundo. Olhou o relógio... e fez sua escolha, deu com os ombros: não vou atender! Não vou! Passava por momentos dificeis. Coisas e coisas lhe tiravam o sono. Podia ser uma notícia desagradável. Ele não queria passar por aquilo naquele instante. Precisava comer: “tudo o que preciso neste momento são de pessoas que me compreendam...” o telefone insistia... parecia estar mais alto e mais irritante. Mas ele prometeu: não vou! Fez um outro sanduiche e mordeu com prazer.
Mastigou de forma demorada. Como que apreciando cada segundo daquela paz que ele inventou.
(trimmmmmmmm, trimmm, trimmmm...)
E não parava de tocar! Ele se manteve firme! No fundo sabia que uma chateação qualquer poderia desfazer em um só segundo todo seu rito de paz!

6 comentários:

  1. bem escrito mas naão diz nada com nada, a gente lê e depois fala ta, e dai?

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  2. Fico feliz! Deu certo então... rss
    afinal a angustia continua!

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  3. uahsuahsau Eu concordo com o senhor (a) anônimu não entendi patatifas do seu texto! + já apalei pra musikas p/ me sentir melhor! E quem nunca ja fez isto? tchau chatinho ;

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  4. Ahhh e outra coisa! que coisa sem graça vc ficar comentando aqui Sr Vilela! Se continuar comentando eu que não comento mais uashauhau sabe que sou radical!

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  5. ficou meio desaforado essa sua resposta ao comentario anomininio sei la como que escreve isso hahahahaha nao ficou nao? hahahaha tambem fiquei com a sensacao que faltou um final masssss quem sou eu hahaha bjo sumido

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  6. eu preciso registrar que pra comentar eu tive que escrever a palavra fode hahahahahhahaha

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