domingo, 28 de junho de 2009

Insatisfeito



Com tudo isso que é sempre muito igual
Com meu jeito inerte que não me permite viver um sonho
Com a imensa facilidade que tenho pra desenvolver algumas coisas
E a extrema dificuldade para lidar com outras
Seria melhor que houvesse um mínino de equilíbrio?
Seria melhor que houvesse a medida certa de paz?
A medida certa de amor?
De carinho, de paixão!
Ah... de repente se está no céu um dia
E, no outro dia, é lançado novamente ao chão
E este arrebatamento e essa queda
Esse choque de temperatura, de estado, de... já nem sei
Quase destrói meu corpo
Quase me arrebenta todo
A intensidade desses momentos atravessados como espada
Um dia ainda me pára, um dia ainda pára meu coração
Insatisfeito!
Com essa vida de altos e baixos e certezas curtas demais
E duvidas que duram noites inteiras
Insatisfeito, por não saber se tudo que vivo é felicidade
Porque feliz por completo, cheguei já a conclusão que é utopia
Insatisfeito, diante da injustiça que percebo todos os dias
E dez, mil vezes mais insatisfeito, por saber que apenas percebê-la
É muito, muito pouco!
Insatisfeito, com minha situação amorosa, social, política, religiosa
Cultural, esportiva...
E não me conforta saber que têm pessoas em situação pior
Porque todos nós precisamos mudar!
Insatisfeito também, com o brilho do seu sorriso que se apagou
Com o som da sua voz que se calou
Com o silêncio perturbador ou a imprecisão de tuas respostas
Diante de qualquer pergunta que te faça
Insatisfeito por amar você
E saber que um muro foi construído em frente sua casa
Me privando de algo que me deixava muitíssimo bem
E, aquele jardim bonito que via
Agora, só você pode ver!
Insatisfeito, por temer tanto a solidão e conviver com ela todos os dias
E ter que compartilhar com ela os segredos que ninguém mais no mundo entende
Meu Deus, quem poderia?
Insatisfeito, por nunca ter feito o que sempre queria...
E quando a euforia acaba, meu amor,
Eu caio tão alto, que às vezes penso: não vou mais me levantar!
E, na verdade, não há tristeza, não há alegria sozinha
Elas estão juntas em mim todos os dias
E chegam a transbordar enquanto penso sobre como meu corpo caminha
E, todos os dias, percebo caminhos novos
E sigo pensando que quando encontrar o equilíbrio perfeito...
Mas e até lá? Insatisfeito?!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Por um fio


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É quase noite na cidade. E como todo brasileiro após um dia estressante de trabalho o que mais quero é chegar em casa, tomar um bom banho e descansar. Mas como tem gente ficando mais velha hoje, meu o amigo de todas as horas vai estar a minha espera na porta do trabalho com aquele sorriso largo de sempre. No mínimo vai julgar que me esqueci que hoje é segunda-feira! E dizer que como combinado, vamos comemorar o aniversário do Léo. E nessa hora eu como quem se esqueceu do trato vou questioná-lo: - E segunda é dia pra isso? Não temos mais dia! Ignorando minha frase de efeito vai tentar me ludibriar alegando que amanhã o Léo parte para São Paulo e só volta em quinze dias. Implicando comigo: “Que cara é essa?” Léo vai ficar super chateado se não for! Após um pequeno diálogo vou ceder: “Está bem. Mas preciso de um bom banho!” E como sempre o amigo de sorriso largo vai brigar comigo: “Se for em casa sei que não vai voltar.”
Seis horas da tarde, hora de bater o cartão e encarar isso tudo. Saio quietinho pela porta do trabalho e quem está lá fora? Ninguém! Ah espere, há um carro ali, uma buzina:
- E aí? Bora – diz o cara de sorriso largo – sem ousar descer do carro para enfrentar todo o nosso diálogo – vamos né? Fazer o quê…
Três horas depois chego em casa, cansado, sem banho…
Alguém me chama a atenção:
- Oi, poxa vida achei que não vinha. Temos compromisso.
- Desculpe, me enrolei um pouco com os amigos após o trabalho.
- Hum. Até agora? Vai começar, já estava ficando brava. Se não aparece… dois meses sem conversa.
Ela estava radical naquele dia. Eu, pensativo. Gostaria de passar mais tempo em casa. É, e fazer coisas mais produtivas. Ler mais. Estudar. Já havia até me esquecido a última vez que peguei um livro pra ler.
- Ei, você ta aí? Acorda, vai começar.
- Puxa, acabou a novela? Nem vi.
- Talvez estivesse no mundo da lua. Ficou cinco minutos sem uma palavra.
- É… pensando na vida. Preciso mudar. Todos nós precisamos (…)
Ela interrompeu, dizendo para eu prestar atenção no começo. Riu: “As cenas iniciais são importantes para se entender!”
A gente conhece esses filmes. Sabe disso. Não disse nada. Quase nada, apenas um ta seco. Um ta seco que quase nos levou a uma pequena discussão. Graças a uma cena bonita fui salvo. Respirei aliviado – o casal do filme era apaixonado!
Logo, logo o filme chegou na parte boa. Sim! Até então não havia entendido muita coisa. Ou havia. Só que conforme o roteiro, tudo aquilo que se viu e pouco se deu atenção parece se juntar de repente. É, e a gente diz com uma cara de bobo, sem perceber: ahhh entendi! Não poucas vezes a gente é ironizado:
- só agora? E alguns risos sutis. Ou dependendo do tempo que se leva a chegar nesse ah os risos são até exagerados. Nada que estrague o momento. Já havia se tornado envolvente a história e comentários e previsões já eram muitos. Era a parte boa. Quando se começa a sofrer as dores das personagens. Há filmes que, devo confessar, torço pro vilão. Não era o caso desse. Esse era bom. Sim, bom filme! E brasileiro. Há pouco tempo havia descoberto a qualidade de filmes brasileiros. Esse não era muito regado a palavrões. Era divertido. Pudera, brasileiro é divertido. Era baseado em fatos reais. História triste. Mas eu sabia que tudo ficaria bem no fim. Pelo menos era para isso que torcíamos:
- Vai ficar tudo bem! Ela concordou. E riu. Sabia que iria ficar tudo bem. O que não tirava de maneira nenhuma o interesse em assistir, nem a tensão de cena após cena. Depois de um tempinho, disparou: - que vai ficar bem é óbvio – Ela adora essa palavra. Eu me sentia inferiorizado quando ela dizia isso. Às vezes a dizia, outras vezes não. Dessa vez não disse. Fiquei quieto por um tempo. Meu silêncio a incomodou um pouquinho. O que a levou a perguntar pelo meu dia e a questionar meu silêncio.
- Ei, na hora do intervalo, se quiser pode conversar comigo. Ligo não, ta? Amenizou a pequena crise.
- Claro! Só estava vendo esse reclame. Deixamos de lado um pouco o filme. Víamos. Mas a conversa no intervalo nos tirou um pouco o foco. Em poucos minutos, talvez cinco de propagandas, ficamos falando da vida. O filme já havia voltado há um tempo e a conversa iniciada no intervalo já quase alcançava o próximo.
- Você está entendendo? Ela me pôs em xeque.
- Claro. Sua mãe quem deu a idéia. Ela disparou a rir. Percebi o equivoco: “estou brincando né? Sei que não se trata disso.”
- É, refiro-me ao filme! Parte final!
- Estou sim! Só não falo para não perder a graça, depois a gente debate.
- Melhor!
As cenas eram fortes, a personagem a qual não desgrudávamos os olhos, parecia perder a luta contra vida. Seu quadro era delicado. Foi levada desacordada ao hospital e quando ali se percebeu, só sabia gritar: Fabio! Fabio! – Era o noivo - que como nós nunca havia deixado de acreditar na sua vitória e se arriscava no seu carro pelas ruas do Rio de Janeiro.Corria muito, temia não chegar a tempo.
- Ufaaa. Dá um medão de ele não conseguir. Medo que ela morra. Comentou Emocionada - não raras as vezes um bom filme ou livro a emocionava. Era uma menina linda por dentro e por fora e senti a necessidade de dizer algo a ela nesse sentido:
- Você é muito especial, sabia? Não deu tempo para que ela me agradecesse, o filme nos prendeu demais. Era o ápice! Fabio falava coisas lindas segurando a mão de Marina - como acontecem nesses filmes. Ela comentou pela última vez uma cena: “Ah que lindo”. De fato era. Muito!
Pela minha experiência ainda restavam uns cinco minutos. De repente minha companhia tão agradável se foi. Desapareceu sem sequer se despedir de mim. Parei de olhar a tela da TV. Fiquei a questionar sobre aquilo – Uma tremenda sacanagem – pensava. O momento mágico do filme foi interrompido. De forma brutal. Com quem eu iria debater o final, filosofar sobre a vida? Dizer o que achei! Afinal não é pra isso que se vê filme? Perdia o sentido nossas previsões, erros e acertos. A tevê continuou ligada e já não tinha razão de ser. Estava sozinho de novo, luzes apagadas, a conexão caiu!!!

terça-feira, 23 de junho de 2009

A primeira vez dela com Ele



Pode se dizer que a primeira vez dela com ele foi decepcionante. Sim, e ela pensou insatisfeita: ahhh nunca mais!
Ela entrou apressada, como quem marca algo e está atrasada... encostou a porta tímida e não disse nada. Certificou-se de que a porta estava realmente trancada e estava. Foi a janela e também a fechou. Ela temia olhar na direção dele. Se despiu, todinha, embora imaginasse não necessitar. Um pouco enrolada se atrapalhou com a calça. Ele também estava um pouco enrolado. Ela então o visualizou. Era exatamente como lhe disseram. A primeira impressão foi boa, evitando as palavras apenas pensava que o tamanho era normal, não era grande, mas ela sempre foi adepta do pensamento: “o importante é saber usar”. Quanto a espessura era, aparentemente, grossa. Bom, ela não sabia ao certo se era uma espessura boa, até por sua pouca experiência!
Já sem roupas aproximou-se dele. Com uma certa dúvida, tocou de leve... apalpando agora achou um pouco fino, mas persistiu no ato que estava para consumar! Achou conveniente se assentar, procurou uma melhor posição. Ele era cheiroso e suave. E por que não dizer... carinhoso.
Então começou... Ela estava pensativa: quantas pessoas já usaram isso? Sim, ela tinha pagado por ele. Procurou, no entanto, esquecer essas coisas. A escolha já havia sido feita. E então, que fosse bom.
E estava sentindo qualquer coisa entre uma pequena dor, um prazer e sobretudo um grande alívio.
Então ela tocou nele novamente, após ter percebido que algo havia se rompido. Nesse momento ela teve uma certeza : “era muito fino!” Se sentiu mal, se sentiu culpada. Se sentiu suja. Não só o corpo sujo. Teve raiva, teve nojo de si! Mas não disse uma palavra. Ela o descartou, e foi logo pensando: “não é um produto? Se é um produto, quero um produto bom!” E pensou decidida em procurar um produto melhor! Se arrependeu da escolha que tinha feito enquanto lavava as mãos sujas. E saiu apressada, e no caminho pensava: nunca mais compro essa droga de papel higiênico fino, nunca mais!!!

domingo, 21 de junho de 2009

Pecados...



Eu tenho tantos pecados
Que se uns sobre os outros
fossem colocados
daria para subir ao céu


Mas não daria...
Mas daria...
Mas não daria...
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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vulnerável...



Vulnerável demais a qualquer sorriso, caminho
Caminho como quem caminha bêbado sozinho
Ou como quem ainda, de tão novo, não se pode equilibrar
Apaixono por uma forma de vida que desconheço
Nem sei viver ou contestar
Atormentado com beleza demais o dia todo na mente
Me entrego e me desintegro facilmente
Perante tuas palavras como papel de molho na água
Como chá de saquinho diluindo-se na mágoa
Vulnerável demais, eis minha sentença:
Fazendo contas, colocando as coisas no eixo
Até cruzar com sua presença
E sem querer derrubar o queixo
E esquecer o som de tantas ordens
E desencaminhar a natureza dos próximos metros
Vulnerável demais, como soldado inimigo
Capturado na batalha, sujeito a tortura, a falhas
Vulnerável demais, sou eu neste instante
Andando sobre altos edifícios com vertigem
Com labirintite, deslumbrante
Com os olhos vendados
Vulnerável demais
Como um refém com os braços e pernas atados
Como aposentados vigiados por bandidos
Andando só na Sé, na lapa
Presa fácil, como bola quinze na boca da caçapa
Como em cidade estranha a andar só na rua
Vulnerável a qualquer palavra tua
Vulnerável demais rumo ao buraco que miro
Vulnerável demais a qualquer sorriso... ou tiro!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Crônicas



Eu já tentei combatê-la
Foi em vão admito
Essa dor que me persegue
Sabe meus passos
Conhece meus gritos!

Eu já tentei vencê-la
Colocar nessa angustia um fim
Mas se não posso vencê-la
Ela não pode a mim

Aprenderei a suportá-la
Mudar o foco e fingir não vê-la
Mas sei que Ela sempre estará aqui
A me alfinetar para eu não esquecê-la

Eis sua sina, eis sua tônica...
Me fazer percebê-la dia a dia
Todas as minhas doenças são crônicas
Todas as minhas palavras, poesias!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Avenida...


Vida é Avenida
Travessa, problemas
Ao final dela, a saída
Ser feliz, é o lema

Vida é Avenida
Pista rápida
Imprevisível
Carros, semáforos
Pessoas, obstáculos
Pouco tempo
Muito espaço
Muita briga
Nervos de aço!

Vida é Avenida
Reta imensa
Na qual uma disputa se traça
Aceleram, te xingam
Buzinam, te passam!

Correm. Adrenalina
Voam baixo, sonham alto
Vida é Avenida
Morte, asfalto!